Um dos pilares da sustentabilidade corporativa é a transparência. A parametrização de indicadores e informações sobre questões ESG (social, ambiental e de governança corporativa) é, contudo, importante para as empresas avançarem no tema e organizarem a divulgação do que estão fazendo. Além de ser, claro, primordial para a boa governança. Com o avanço da discussão sobre padrões globais de contabilidade para práticas ESG, as empresas devem ser cada vez mais pressionadas para adotar, medir e divulgar suas estratégias, atividades, riscos e impactos socioambientais.
Em meados do mês de fevereiro (16), a IFRS Foundation, organização internacional que dita as normas para a divulgação de demonstrações financeiras usadas em diversos países, incluindo o Brasil, citou a pretensão de, nos próximos meses, divulgar os primeiros rascunhos das novas regras do IFRS ESG, que ditarão a divulgação de informações sobre os riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade das empresas.
Isso depende de ter ao menos oito pessoas dos 14 membros previstos no conselho anunciado em novembro do ano passado durante a COP26 em Glasglow, o International Sustainability Standards Board (ISSB), responsável por dar a palavra final no assunto. Dois nomes já foram anunciados – o do presidente e vice do conselho – e a previsão é ter o quadro completo até o final de setembro.
“Há uma forte demanda das partes interessadas para que o ISSB publique os requisitos finais em tempo hábil com base no protótipo sobre clima e nos requisitos gerais de divulgação de sustentabilidade também publicados na COP26, sujeito ao processo adequado”.
Pontua o órgão (IFRS Foundation) na notícia.
Essa sinalização de urgência e a própria intenção da fundação de chegar a um consenso na parametrização dos dados ESG é vista com bons olhos por Sebastian Yoshizato Soares, sócio-líder de Governança da KPMG no Brasil e membro do Ibracon (Instituto de Auditoria Independente do Brasil).
Em evento da Convenção dos Profissionais da Contabilidade do Estado de São Paulo (Convecon) recente, Soares pontuou que as novas normas podem aumentar a pressão não apenas para empresas de grande porte e exportadoras, mas também para as menores passarem a se preocupar com suas ações.
“É um ledo engano achar que os aspectos ESG só recaem sobre as grandes corporações. Cada vez mais as grandes organizações vão fazer pressão em toda a sua cadeia de suprimentos para que fornecedores também meçam e reportem essas informações. Elas vão querer saber qual o nível de aderência ESG para continuar a trabalhar com aquele fornecedor. Vai ser em graus de impacto diferentes, mas essa exigência vai atingir a todas as empresas”, afirma.
Hoje, algumas empresas já rastreiam práticas de sua cadeia, como as grandes do setor agropecuário e de papel e celulose, além de exportadoras que se deparam cada vez com mais restrições de acesso ao comércio internacional para quem não é sustentável. Cada vez mais elas serão cobradas para reportar essas informações, o que hoje é obrigatório apenas para as empresas de capital aberto ou que participam do sistema financeiro nacional.
Em setembro, o Banco Central impôs novas regras sobre riscos sociais, ambientais e climáticos para instituições financeiras, entre elas, a gestão e divulgação de informações sobre riscos e oportunidades relacionadas a ESG[1] .
Em dezembro, foi a vez da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicar uma nova instrução (CVM 480) sobre o que precisa constar no formulário de referência das empresas de capital aberto, cobrando mais detalhes sobre práticas ESG interna e externamente.
Mas Soares acredita que isso vai avançar sobre outras companhias logo. Para o executivo, todas as empresas, independentemente do tamanho e setor, terão que, em breve, mensurar, analisar e reportar informações sobre sua atuação em prol da sustentabilidade e impacto socioambiental.
“Se eu tenho uma rede de supermercado no interior do Brasil com funcionários terceirizados, como segurança e profissional da limpeza, e algum deles eventualmente entrar em uma questão discriminatória, vou ter um problema na comunidade. Como você vai lidar? Se você não tem uma política de como lidar com questões raciais e outras formas de discriminação e não dar treinamento para toda a cadeia, corre o risco de ter problemas com a marca e reputação”,
dá o exemplo para ilustrar que o tema independe de porte.
“É preciso garantir que um nível mínimo de aderência para ESG meu fornecedor tenha”, completa.
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